quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Diário da Africa - parte 1

Estive relendo um pequeno diário que escrevi ao final de cada dia que estive na Africa do Sul no ano passado e de lá tenho várias coisas interessantes que aprendi e que vivi para contar.

Foi uma oportunidade incrível. Fiquei um mês isolada da civilizacao, no meio da savana africana cuidando de filhotes orfaos de babuíno. Nao só deles e vcs vao saber porque...

A organizacao na qual trabalhei se localiza nas margens do Parque Nacional Kruger numa outra área também "protegida".

De Joanesburgo peguei um aviao pequeno que parecia que seria levado pelos ventos! =/
Eu olhava pra baixo, via a savana alagada, barrenta...(estava chovendo pra ajudar!) e achava que seria meu fim! rs

Chegando (viva!) no aeroporto da cidade mais proxima - uma pista simples de asfalto no meio no mato, ainda tive mais uma hora de carro até chegar na ong.

A riqueza de biodiversidade lá é enorme. Digo da biodiversidade, pois riqueza de dinheiro, nao é nao, o que nao é novidade pra ninguém.

Antes de chegar no meu destino final, mas já dentro do parque em que a ong se encontra, vi uma familia de javalis, impalas, um filhote de chacal e um cudo.

Aqui sim que a verdadeira aventura comecou!

A sede dos voluntários era uma casa praticamente sem reboco nas peredes, quero dizer, onde havia paredes!! Os quartos e os banheiros tinham sim parede e rebocadas! Mas nao iam até o teto, pois a casa nao tinha laje! (até porque tem uma arvore no meio dela)
A cozinha e a sala comum nao tinham paredes, pois o isolamento da casa pra parte externa era feita com alambrado.
É, a casa toda era cercada com isto, pois estavamos simplemente mergulhados num mundo que nao era nosso, o mundo pelo menos naquela parte, pertence a outras especies, que nao os seres humanos. =)

Minha primeira noite foi tensa...eu estava sozinha no quarto, minha janela nao fechava inteira, o que permitia animais pequenos entrarem por ela. Se bem de que se fechasse nao ia adiantar nada, pois como disse, as paredes nao iam até o teto, entao os animais que entressem pelos alambrados poderiam andar por onde quisessem da casa!!
Fui acordada com um rato sobre a tela da minha cama, outros andavam pelo fim da paredes, outros desciam a tela e esbarravam na minha cabeca...

Quando o dia amanhecia, todo mundo pulava da cama rapidao ou dependendo de como tinha sido o trabalho do dia anterior, se arrastavam pra fora da cama.

Lá na sede além dos voluntários, moravam conosco 5 filhotes de babuinos e dois filhotes de cachorro vira-lata.

E é aqui onde eu quero chegar nesta postagem....

Quem cuidava das cadelinhas Sarah e Tess era um moco ingles (com seus 25 anos..) que havia se mudado pra lá. Ele largou a vida na Inglaterra pra se dedicar aos babuinos e ele realmente tem talento para isto - para babuinos!

As duas ficavam em uma jaula minuscula, o dia todo!! O moco dava comida pra elas 2 vezes ao dia apenas (7 da manha e 8 da noite), o que pra filhotes de um pouco mais de 1 mes é pouco e agua quase nem tinham. Elas faziam as necessidades la dentro mesmo e era aquela beleza, pois nao havia espaco nem pra elas...

No primeiro dia esta situacao ja me incomodou e logo eu comecei a cuidar delas, fato que gerou desconforto na casa e certa discussao.

Esta foi a minha chegada na Africa no Sul: casa parecida com um barraco, no meio do nada, eu falando meu ingles enferrujado no meio de um bando de norte americanos e ingleses que acham que animal selvagem é legal, animal normal, que a gente vê sempre por ai, nao!

Muitos dos voluntarios chegavam em casa e simplemente nao olhavam pras duas que estavam chorando o tempo todo!! Eles pareciam nao escutar!!!

Precisei de menos de uma semana lá pra entender o que acontecia: as pessoas viajaram por oceanos pra estar na Africa, onde o joia é cuidar de animal selvagem...o resto é resto!

Antes eu tinha a ilusao de que chegaria lá e veria um monte de gente compromissada com a natureza, com a qualidade de nosso futuro e com os animais em geral, mas me enganei e de longe!

Existem pessoas que gostam de certos animais, como os que gostam de babuinos e nao do resto, ou quem gosta de cao e tem pavor dos outros.

Nao acho que isto seja ruim, cada um gosta do que quiser, mas precisamos no mínimo ter coerencia e coracao!

Depois de uma semana eu já havia arrumado uma jaula gde pra elas, com espaco pra comida e agua, papelao e cobertor! Elas ficavam fora da casinha o dia todo praticamente, com os voluntarios que nao estavam nos turnos olhando por elas, por que pela grade da cozinha os babuinos selvagens poderiam facilmente agarra-las.

Mas felizmente nem tudo está perdido!
Por mais que alguns dos voluntarios se incomodavam com o fato de ter gente cuidando delas, outros se juntaram ao meu time! E até no quadro de tarefa-geral do povo elas entraram - com direito a caminhadas com coleira e guia pela savana! ;)

Antes de vir embora de lá eu acompanhei a Rita, a senhora que é dona da ong, ao veterinário varias vezes. Nós preparamos as duas pra mudarem de país!

Olhem como sao as coisas, coincidencia ou nao.....eu já tinha certa experiencia sobre as regras para transportar os animais pra outro pais, pois trouxe meus caes pra Alemanha. A Rita, tem uma amiga alema que adotaria as cadelinhas se os procedimentos fossem feitos!
Entao, antes de partir eu deixei Sarah e Tess já vacinadas contra raiva, já com microchip e com o teste sorológico agendado.

Meus companheiros me prometeram que fariam todo o resto e que cuidariam do dia-a-dia delas até elas partirem e isto realmente foi feito.

Hoje em dia as duas moram em Hamburgo, vira e mexe estao na Espanha, na casa da praia dos donos e tem uma vida que mereciam desde sempre.

Descobri, lá no longe, na raca mesmo, que se a gente faz com coerencia aquilo que sentimos, provelmente o resultado será bom.

Se vc está no fim do mundo, acordando as 6 da manha, ficando imundo o dia todo, com macaco puxando seu cabelo e mijando na sua perna, é de se esperar que vc saiba que outros animais também tem as mesmas necessidades e que vc se importe com eles....

....mas nao é assim.

O bom de tudo é que o resultado foi o mesmo: com a maioria pensando apenas nos selvagens, o resultado foi bom! Shenzi e Tez, como sao chamadas agora, estao livres, leves e soltas, talvez muito melhor do que aqueles que nao ofereceram nenhuma ajuda! ;)

Diário da Africa - parte 2 vem logo! Os babuínos sao uma turma da pesada! rs

3 comentários:

  1. ...e com atitudes assim com a Tess e a Sara é que tua ONG já esta sendo construida... com atitute, amor e dedicacao, pois é só assim e só com isso que conseguimos conquistar nossos desafios!
    Te amo, sou muito orgulhoso de vc!

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  2. Isso ai mana!!Seu blog esta lindo!!Parabens!!vc e o cunha arrasam nos blogs!!!
    Amo vc!!
    sdds!!

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  3. E agora meu comentário é para ficar! rs

    Parabéns pela iniciativa de montar esse blog!
    Como já conversei com vc, nem todo mundo sabe com clareza os motivos de estarmos aqui, mas isso é tão claro em vc... Vc nasceu para ajudar os animais! E tudo aquilo que nasce no coração está destinado a dar certo, por isso, o Rancho Alegre vai levar muita alegria para os bichinhos, humanos ou não... Tenho certeza disso! Sarah e Tess podem testemunhar sobre isso! :-D
    Tenho orgulho de ser amiga de uma pessoa como vc!
    Espero agora a continuação do Diário da África!
    Beijinhos...

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