sábado, 27 de fevereiro de 2010

Diário da Africa - ultima parte

(Ficou enorme, acho que nao sei escrever pouco...sorry!!! Mas ainda nao desisti de tentar...=))

Nem tudo na áfrica foram flores, não mesmo!!!

Mas, pensando no conhecimento que adquiri sobre o funcionamento de uma ONG, o que não foi bom foi muito bem vindo.

- As instalações eram ruins: a casa era bem precária e não havia organização.

Ninguém espera se instalar numa mansão no meio da savana, mas um pouco de limpeza e conforto não faz mal a ninguém.

A casa dos voluntários não tinha parede, como eu já escrevi anteriormente. O Mountain Lodge como é chamada, é tipo uma casa sem terminar...móveis velhos, alguns sujos, piso de concreto e por ai vai...

Não vou negar que quando cheguei achei muito estranho e pensei: “Meu Deus, bem que me avisaram pra não vir pra este fim de mundo!”.

Só depois de estar ambientada eu comecei a gostar da falta de paredes, pois a coisa mais gostosa era chegar em “casa” (não era a minha casa e nem de longe era uma casa!!) e poder ver o mato, a margem do rio, hipopótamos mergulhados na água, girafas por perto, javalis, babuínos e outros macacos correndo por todos os lados. E sentir o vento no rosto....isto amenizava a realidade da casa, pelo menos.

Deste fato a lição aprendida pra minha ONG é: uma casa de voluntários organizada dá mais seriedade pra coisa e torna o dia-a-dia mais prazeroso, portanto é mais seguro que os voluntários queiram voltar um dia.

- Falta de profissionalismo:

Os funcionários que estavam em contato direto com os voluntários eram jovens, eram eles que teoricamente deveriam ser os lideres, dar as dicas, dizer o que se deve ou não fazer.... mas não era isto que acontecia.

Tem voluntários que praticamente vivem a vida pra voltar pra lá, que vão dos EUA pra lá 3 vezes ao ano e ficam 3 meses ou mais a cada ida e muitas vezes eram estes voluntários que davam as cartas, totalmente despreocupados em não estragar a imagem da organização.

Mas também havia voluntários que foram uma vez apenas, que não sabiam nada de macaco, mas que tentavam dar as regras, eram sem educação e atrapalhavam o coleguismo entre os demais voluntários.

Funcionários ainda faziam panelinha com voluntários antigos e falavam mal do povo recém chegado na cara dura!

A lição aprendida aqui é que uma ONG precisa ter um funcionário de confiança para tratar com os voluntários e treiná-los, ele precisa ser maduro e ter a “cara” da ideologia da organização.

A falta deste funcionário que citei acima me proporcionou as coisas mais difícil que enfrentei no começo: relações pessoais.

Uma voluntária norte americana não foi com a minha cara, nosso santo não bateu, ou melhor, o santo dela não bateu com o meu.
Eu nem a havia notado até que percebi que ela era a pessoa que estava tentando fazer as regras contra as filhotes Sarah e Tess. Como por exemplo não deixar que elas saíssem da jaula e outras coisas absurdas assim...

Eu mesma tive que resolver isto com ela o que gerou um clima nada bom, porém em seguida ela deixou tanto a mim quanto aos filhotes em paz.

Se houvesse um funcionário para dar as regras e para ser o suporte nestes casos, eu jamais teria que resolver isto sozinha (recém chegada no fim do mundo, em outro idioma), pois ela provavelmente não se sentiria no direito de mandar e desmandar nos outros.

Sobre este fato eu comecei a notar outras coisas interessantes:

Muitos dos que estavam lá queriam realmente contribuir, gostavam dos macacos, interagiam de forma amigável com os demais e faziam de tudo pra que a convivência fosse boa entre todos.

É muito provável que uma pessoa que se enfia na savana rodeado de animal selvagem pensa em superar medos e ter desafios....

Porém, uma considerável parte estava lá pra encher o ego!

Eram geralmente estes que pouco se importavam com os macacos ou com os colegas....que pouco sabiam sobre como lidar com macacos, alguns eram até meio malvados com os animais!

Lição aprendida aqui: todos podem e são bem vindos a cuidar dos animais, desde que sejam instruídos pelo próprio staff da organização.

A própria idealizadora da ONG é uma mulher pouco educada. Virava e mexia nós escutávamos os gritos dela para com os funcionários (ela é o tipo de gente que gosta de bicho e não de humano – o que não ajuda muito na minha opinião).

Ela gritava com todos, com exceção dos voluntários e os que mais levavam xingos eram os nativos, os “Black man” como são chamados.

Eles são a base do funcionamento da organização, pois eles fazem os serviços pesados, que só quem tem muita experiência pode fazer.

São eles que alimentam os bandos adultos, que são praticamente selvagens, apesar de estarem em cativeiro. Estes grupos tem até 30 macacos, adultos, jovens e bebês, tem macho alfa....são perigosos! Mas são os nativos que entram nas jaulas e fazem o serviço.

Para vocês terem uma idéia eles são os nossos seguranças nas horas de tirar os macacos pequenos da sede e levar pros recintos externos, na hora de levar os baldes de comida e mamadeiras, pois os bandos selvagens sabem exatamente a rotina dos bebês e das comidas e sem um nativo por perto eles podem atacar quem estiver levando os pequenos e também atacam as comidas.

Eles nos ajudavam na limpeza dos recintos muitas vezes e na seleção de comidas e também fazem toda a parte de reparo dos recintos.

Os babuínos selvagens ou não, respeitam as pessoas por esta ordem: primeiro os black man, segundo homens brancos e por último mulheres.

Eles falam sua própria língua, mas também falam inglês.

Pude conversar bastante com “meu” guarda costas favorito: Given, tímido e sorridente, com seus 40-50 anos, pele negra, careca, magro e forte.

Depois que eu fui atacada por um macho alfa selvagem, preferi, sabiamente (!!) ter Given em minha companhia sempre que podia! E assim aprendi um pouco com o que podíamos conversar.

Eles são sábios da “natureza”, tem um sabedoria meio nata que parece entrar por osmose ao longo da vida na savana.

Given era um cara calmo e apesar de sempre levar broncas nada parecia abalar a sua estrutura! =)

Lição que não aprendi na ONG, mas que reforçou o que já havia aprendido com meus pais: não importa quem seja a pessoa, que trabalho ela faz, que grau de estudo ela tem, a cor de sua pele ou a sua crença, TODOS merecem respeito. Ainda mais se fazem por merecer!

Apesar de tudo que relatei de “ruim” a organização faz um belíssimo trabalho, ela cuida muitíssimo bem dos babuínos!

Os recintos são grandes e enriquecidos na maioria dos casos;

Todos recebem uma alimentação balanceada e cuidadosamente preparada;

Os bebês e jovens tomam leite na quantidade certa por dia – a fórmula do leite foi desenvolvida pela própria dona da ONG;

Mesmo em cativeiro eles vivem como babuínos;

E depois de uma vida de cuidados eles têm a capacidade de sobreviverem quando reintroduzidos – que é o objetivo final da organização!

A organização faz o que se propõe a fazer, mas na minha opinião cuidar bem dos seres humanos também deveria fazer parte do objetivo, já que sao pessoas que fazem o trabalho!!!!!!!

Provavelmente eu não volto mais para lá, se pudesse fazer este tipo de viagem novamente faria para outra organizacao, nao por causa dos macacos, mas por causa das pessoas....

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